quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

A temperança - por André Comte

Nem tanto aos céus nem tanto à terra, mas todo dia me apaixono ainda mais pela leitura de Pequeno Tratado das Grandes Virtudes - André Comte. Certamente que não tenho a moral por companheira e nem tam pouco a falsa moral por amizade. E esse livro trata das virtudes não com o intuito de moralizar-nos e sim de nos conhecermos. E me sinto na obrigação de compartihar essa gostosa experiência, em alguns trechos dessa obra:

“Certamente apenas uma feroz e triste superstição proíbe ter
prazeres. Com efeito, o que é mais conveniente para aplacar a fome e a sede do que banir a
melancolia? Esta a minha regra, esta a minha convicção. Nenhuma divindade, ninguém, a não
ser um invejoso, pode ter prazer com a minha impotência e a minha dor, ninguém toma por
virtude nossas lágrimas, nossos soluços, nosso temor e outros sinais de impotência interior.
Ao contrário, quanto maior a alegria que nos afeta, quanto maior a perfeição à qual chegamos,
mais é necessário participarmos da natureza divina. Portanto, é próprio de um homem sábio
usar as coisas e ter nisso o maior prazer possível (sem chegar ao fastio, o que não é mais ter
prazer).” Spinoza

A temperança se situa quase toda nesse parêntese. É o contrário do fastio, ou o que
leva a ele; não se trata de desfrutar menos, mas de desfrutar melhor. A temperança, que é a
moderação nos desejos sensuais, é também a garantia de um desfrutar mais puro ou mais
pleno. É um gosto esclarecido, dominado, cultivado.

A temperança é essa moderação pela qualpermanecemos senhores de nossos prazeres, em vez de seus escravos. É o desfrutar livre, e que, por isso, desfruta melhor ainda, pois desfruta também sua própria liberdade. Que prazer é fumar, quando podemos prescindir de fumar! Beber, quando não somos prisioneiros do álcool! Fazer amor, quando não somos prisioneiros do desejo! Prazeres mais puros, porque
mais livres. Mais alegres, porque mais bem controlados. Mais serenos, porque menos
dependentes. É fácil? Claro que não. É possível? Nem sempre, sei do que estou falando, nem
para qualquer um. É nisso que a temperança é uma virtude, isto é, uma excelência: ela é
aquela cumeada, dizia Aristóteles, entre os dois abismos opostos da intemperança e da
insensibilidade, entre a tristeza do desregrado e a do incapaz de gozar, entre o fastio do glutão
e o do anoréxico.

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